trecho do livro 'A insustentável leveza do ser'. |
Foi nesta sentença que meu pensamento se
fixou: às vezes é apenas um impulso mesmo. A força dirigida nos
atos imperiosos do amor leva a uma conclusão cientifica amplamente conhecida:
para que algo entre em movimento é preciso que haja interação de dois corpos.
A física define este impulso como a
grandeza que mede o quanto varia a quantidade de movimento de um certo objeto,
no sentido que uma pequena força aplicada durante um longo período pode causar
o mesmo movimento que uma grande força aplicada de uma só vez. Ora, não é sob
estas condições que ternos casamentos e paixões desavisadas nos movem?
Mas claro que esta força de ir ao encontro
é, deveras, desajeitada e violenta, como um vento que colide a árvore contra a
casa. Muitas vezes irresistível e que leva as pessoas à prática de ações
irrefletidas, o impulso de desejos ruidosos possui, ainda assim, precisa
serventia cuja pretensão é uma só: tanger o outro.
À distância ou à deriva tem importância
neste estado de repouso. Pois que a tendência é a de analisar a quantidade de
movimento antes e após a colisão. Nunca durante, porque só se aplica força ao
que está parado. Esta é nossa noção mais intuitiva de impulso e, quem sabe, a
mais recorrente também. Por esta razão, talvez, uma quantidade infinita de
laços nunca se rompam definitivamente. E por determinação completa e categórica
de algum âmago supremo de nosso cérebro ou coração, continuamos a impelir força
sobre os episódios estagnados da vida. Chame de vontade, de desejo, de ego, de
orgulho ferido. Não importa. Chame do que quiser este ímpeto de coragem que
movimenta os sucateados amantes.
Mesmo no resguardo sutil que eleva o
discurso ao um nível quase cínico, são nas redomas de proteção das distâncias
criadas que abandonamos tantas vezes o viver, o pensar e o sentir. O amor é um
ato de colisão. Tem que ser. A pergunta é: quantas
vezes mais o subterfúgio geográfico salvará as aparências?
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Junho / 2014
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