quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Amor é colisão

trecho do livro 'A insustentável leveza do ser'.
Foi nesta sentença que meu pensamento se fixou: às vezes é apenas um impulso mesmo. A força dirigida nos atos imperiosos do amor leva a uma conclusão cientifica amplamente conhecida: para que algo entre em movimento é preciso que haja interação de dois corpos.

A física define este impulso como a grandeza que mede o quanto varia a quantidade de movimento de um certo objeto, no sentido que uma pequena força aplicada durante um longo período pode causar o mesmo movimento que uma grande força aplicada de uma só vez. Ora, não é sob estas condições que ternos casamentos e paixões desavisadas nos movem?

Mas claro que esta força de ir ao encontro é, deveras, desajeitada e violenta, como um vento que colide a árvore contra a casa. Muitas vezes irresistível e que leva as pessoas à prática de ações irrefletidas, o impulso de desejos ruidosos possui, ainda assim, precisa serventia cuja pretensão é uma só: tanger o outro.

À distância ou à deriva tem importância neste estado de repouso. Pois que a tendência é a de analisar a quantidade de movimento antes e após a colisão. Nunca durante, porque só se aplica força ao que está parado. Esta é nossa noção mais intuitiva de impulso e, quem sabe, a mais recorrente também. Por esta razão, talvez, uma quantidade infinita de laços nunca se rompam definitivamente. E por determinação completa e categórica de algum âmago supremo de nosso cérebro ou coração, continuamos a impelir força sobre os episódios estagnados da vida. Chame de vontade, de desejo, de ego, de orgulho ferido. Não importa. Chame do que quiser este ímpeto de coragem que movimenta os sucateados amantes.

Mesmo no resguardo sutil que eleva o discurso ao um nível quase cínico, são nas redomas de proteção das distâncias criadas que abandonamos tantas vezes o viver, o pensar e o sentir. O amor é um ato de colisão. Tem que ser. A pergunta é: quantas vezes mais o subterfúgio geográfico salvará as aparências?
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Junho / 2014


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