quinta-feira, 5 de junho de 2014

todo navio tem um porto para atracar

trazer aqui, mais embaixo, no mundo das trocas.
todo navio tem um porto para atracar, era nisso que eu estava pensando. mas antes que esta embarcação pudesse demorar-se em qualquer lugar, talvez vagueasse muito como cego no caótico tiroteio do amor (e acho que esta ideia mudava radicalmente algumas coisas). em abrigo natural ou artificial, a instalação que recebe os amantes é como um local físico em que a ideia do refúgio se torna concreta. neste percurso da viagem e entre um cappuccino ou um gole ardido de jose cuervo, o tempo agia como um viciado que dava seu próprio valor, peso e medida às coisas. ora, então isto a que chamamos de amor - ou de zelo por falta de atrevimento maior - firmava, não somente a característica daquilo que é recíproco, mas também, naquele instante, a situação daquilo que permanece afastado. o amor continuará a zelar, mesmo à grandes distâncias, é verdade. acontece que justamente neste espaço entre a atonicidade platônica da paixão e a simplicidade da pele que não vem, a vigília do amor deixa de cuidar e passa a velá-lo. põe um véu sobre seu rosto transfigurado, desfigurado, irreconhecível. faz como faria o pranto de uma mãe sobre o corpo do filho estirado no chão, morto, em razão da estupidez ímpar de um acidente. ao passo dado não se retorna, então, amor e óbito não são casuais. talvez por isso o refluxo do pensamento sobre esta ideia seja, assim, tão frequente. o ancoradouro do amor permanece à esmo no mar de algumas vidas. a pergunta é: de quais delas?

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