quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A história do planeta solitário

um fio invisível conecta os que estão destinados a conhecer-se.
independentemente do tempo, lugar ou circunstância,
o fio pode esticar ou emaranhar-se, mas nunca irá partir [*].

Interior, 15 de janeiro de 2014

A

Acho que a marcação de datas nos ajuda a contar histórias. Andei lendo sobre a origem do tempo, dos relógios e, porque não, de nossas próprias necessidades de viver sob estas raias que fatiam a vida. Descobri que os primeiros períodos demarcados foram conhecidos a partir da contagem do tempo que um planeta ou um cometa demorava para completar a sua revolução ou retornar a posição inicial. O regresso do planeta a posição em que estava significava que ele havia cumprido um ciclo determinado e que tinha passado por fases específicas que se repetiriam de maneira contínua. Cada fase possuía características únicas, assim como sabia-se que cada característica jamais aconteceria exatamente da mesma forma - embora aquele fosse um movimento de intervalo regular. A marcação do tempo era possível através desta observação, pois mostrava que todo corpo celeste girava em torno do próprio eixo ao mesmo tempo em que orbitava ao redor de algo muito maior e muito mais vasto do que ele mesmo – normalmente uma estrela que existia como fonte poderosa de energia e força. Recentemente, astrônomos descobriram um planeta flutuando sozinho no espaço fora do sistema solar e sem fazer parte da órbita de qualquer outra estrela. Deram a ele o nome de planeta solitário. Os responsáveis pela descoberta disseram que o corpo celeste tinha as mesmas características de um planeta jovem e que vagueava completamente só. No primeiro momento isso os abateu de certa melancolia, mas depois disseram que nunca haviam visto antes um objeto flutuar tão livremente no espaço. Concluiu-se que o céu também é feito de estrelas que imaginamos ao nosso redor.


Acho que é exatamente isso que desejo dizer a você hoje. Porque a invenção de marcar o tempo talvez seja a única coisa que garante e registra a sobrevivência de nossa espécie ao mesmo tempo em que nos dá a ideia de uma eficiência meio consoladora e meio ilusória às nossas pressas. Ao contrário do que se pensa, não é preciso ser mais rápido, mais eficiente, mais bonito, nem mais satisfatório. O tempo não é a salvação dos ocupados. É porque, na essência, os nossos sentimentos não precisam de tempo, eles precisam de notícias. Quero que você saiba que eu continuo perto de você e que eu sigo existindo e acreditando no ser humano amplo, complexo e absolutamente orgânico que você é - seja em estado de planeta flutuante, seja em plena cadência. Os poetas nascem nas horas em que todos desistem, mas pessoas como você talvez nasçam para ensinar aos que sofrem e lembrar a si mesmo que a urgência mais bonita é a viver sem prejuízo. Desejo que você mude se preciso, transforme quando necessário, converta-se, chore (sim, você precisa chorar!), e volte constantemente aos ideais do seu coração como um filho retorna aos braços da mãe, como eu talvez retornei a você sabendo que aquele era o mais próximo ao sentimento de “sentir-se em casa” que eu já conheci. Olho para você e a vejo com um espanto diferente toda vez, misturado a uma grande admiração. Vejo em você um exemplo. Não deixe nunca de saber que aqui deste lado fala alguém que a ama muito - e que torce pelas suas conquistas tanto ou mais até do que torce pelas próprias. Feliz aniversário.


Com amor
N.


[*] antiga lenda chinesa: "O fio vermelho do destino".

Nenhum comentário:

Postar um comentário