estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
terça-feira, 6 de março de 2012
e agora, você, que ainda é sem nome?
eu vou ter que torná-la um pouco ficção. para isso, ou até mesmo para tanto, para que possa dar conta de ti, eu precisaria dar-te um nome, pelo qual a chamaria na poesia e você poderia entender na vida concreta. imagino, agora, a sobreposição coincidente, ou até a organização bastante mundana que fez com que um dia raro originasse tantos dias mais. naquele dia, eu dormi um pouco perto do céu. e foi dentro dessa agradável estranheza, meio vestida de curiosidade, que eu - usando uma blusa rasgada - fiz a segunda visita. mas talvez curioso tenha sido que a atenção atraída pelas roupas - numa sensualidade pendente e imatura - tenha feito surgir interesse pelo que havia por debaixo delas. hoje, o conjunto de cabelos, nuca e costas existe. e logo, a superfície só existe a primeira vista porque depois, eu quis saber seus gostos, suas inquietações. então, se você pudesse escolher qualquer coisa para estar fazendo agora, o que você escolheria? o que você gostaria de fazer hoje, além de dormir? além do céu ambíguo do outro dia, visto por você em seus pijamas minúsculos e visto por mim, em uma tentativa impossível de olhar o céu sem imaginar o que ele significava, você viu o mesmo céu que eu? sabe aquele céu que só dura dez minutos? então, era esse. em que as nuvens rosa ficam sobre aquele fundo meio cinza, meio azul escuro. em que tudo fica muito quieto - como se fosse o único tempo que o mundo tinha pra se reorganizar. então, durante as mais variadas horas do dia, suas perguntas chegaram, seus recados, você mesma. e março chegou em seguida, cheio de seus dias de se fazer montes de coisas. foi sobre pequenas metáforas descompromissadas que olhei para você, que - de hora em hora - me fazia querer dormir menos de três horas por dia. é por isso que preciso dar-te um nome, mesmo que já saiba agora que você é um pouco incandescente e muito graciosa. feita de teimosia, dona dos extremos, de muita simpatia e timidez. até que viesse um outro dia de novo, porque íamos muito além da noite, até o dia seguinte. os dias se emendavam uns aos outros há vários dias seguidos desta forma. eu me sentia relaxada e feliz - mesmo que a urgência de encontrar teus olhos - na minha cabeça - fizesse com que eu imaginasse que não teríamos uma conversa tão longa da próxima vez (pro bem). racionalmente eu precisava dormir. o corpo precisava disso. mas pensava em pegar tuas aspas como pegaria tua cintura, num quarto de paredes esbeltas e cama pequena. tudo suficiente. induzi, deduzi, instiguei. deslizei - como você disse, sutilmente uma mão pela outra sua, um braço por cima, noutrora por baixo do seu. abraços desengonçados estes, de corpos que ainda não se conhecem. foi lindo. tal qual foi belíssima sua intenção de fumar. eu estava sentada na tua frente, você se lembra? você pediu um trago do meu cigarro. eu consenti com a cabeça, num espaço bem curto. você cruzou a perna, esticou o braço em cima da mesa e esticou a mão pra mim. e te entreguei o cigarro, e a tua mão encostou na minha por um meio segundo. você tragou e me devolveu. foi lindo. foi embora naquela hora. mas já é uma história de atemporalidade poética, algo como estar entre cervejas & tremoços. é.
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