segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

à ana | 9

ah, ana, que é você o par para o qual o destino me criou. ana, com seus olhos de ver primavera todos os dias, com seus dias de ver destino se formar toda hora em minha frente. ana, com seus lábios de dulçor desconhecido, mas reconhecido em mim como a única dolçura possivel em meu corpo. sabe, ana, que é em você que se formou a mulher que conheci na literatura de anos atrás. verdade, achava você impossivel - não no laço, mas nas existencia corpória. ana, cujas pernas sentaram-se próximas as minhas em um balé quase esquisito. ana, cuja dança é bem própria e cujos olhos são tão únicos. foi de ver você, ana, que deixei de ser sozinha para ser par. que deixei de ser um para tornar-me existência de alguém. porque alguém disse nas entrelinhas da leitura de um verão bem longe desse, que às vezes lhe bate a porta alguém que quer - além de entrar - sentar-se para tomar um café. foi isso que você fez. e veja, ana, agora que há uma cafeteira em minha casa - na casa em que moraremos eu e você. no telhado em que pousará o céu de amanhã, sob amparo das evidências que existem hoje. no chão em que repousaremos nós depois amar o corpo e deixar flutuar a alma em que sua integridade se deixa carregar. é, ana, será sob a luz desse dia que os objetos que concebemos aparecerão. nossos lençóis, toalhas - e mesmo que esqueça seus brincos em cima das cômodas - nossos copos usados, nossa vida inteira, nossos corpos de usar uma da outra: meu zelo de amor estará em tudo. penso, medito, e prevejo ana: sempre sua expressão está a me trazer palavras bem cuidadas. de ana, eu cuido.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Texto de tempo de musica

Tem um circo aqui? Ouço um barulho. Essa música é sua ou esse show? É um sino isso, ou não é nada? Você veio até aqui por quê? Sinto seu braço. São suas as pernas que existem aqui? Você me faz rodar no ar. Há ar aqui? Eu giro, e você? Inercia imersa em mim porque giro em volta de ti entre pulos curtos e pequenas corridas. Seus calcanhares também batem sincronizados no chão, nesse chão de areia batida? E nesse chão de argila e céu de névoa? Põe teus pés nessa areia grossa, de rio, nessa argila que marca meus pés, teus ombros, toda história. É natal agora? Canto um conto de natal em meio ponto de som. Se toda a tua voz me fala junto, não te ouço, só te observo. É você quem canta para mim. É uma igreja isso ou uma avenida vazia de natal? Foi você quem trouxe essas luzes? Eu quase vejo seus olhos. Não giro, mas tem algo aqui que me lança para frente agora.

Mesmo à frente, por quanto tempo você espera alguma coisa acontecer? E se você não sabe o que acontece, você põe suas pernas para fora mesmo assim? Tua alma já viu essa rua? Essas folhas já caíram sobre seus pés algum dia ou teus risos já desafinaram aqui? Teu violino ainda me espera? Espera por mim. É, espera por mim porque eu fui ali e já volto. Porque eu sei que te ama muito o amor que te espera.

E espera.
E tanto espera que fica vazio.
VAZIO. Trem vazio de nós. Caixa vazia de recados seus. Mensagens suas, bocas nossas vazias. Vazia de mim, é você. Espaço, divisão de coisas suas que ficaram aqui, em segredo. Seus cd's ainda em uma caixa, suas caixas ainda em sala minha. Minha vida nas caixas que sobraram vazias. Que sobra de ti ficou aqui? Aqui tem um sol, o único sol possível daqui que veio ocupar, sem matéria, sua presença. Você foi – ou ficamos nós, sós, em um tempo? Minhas borboletas voaram, e você, deixou suas andorinhas assistirem ao belíssimo pôr-do-sol de hoje? Qual é a vista do lugar em que você está? Ainda me pulsa você.

sambas defendidos com alegria

ouvi um samba ontem, que desafinou diferente. fosse a razão que fosse, fosse porque eu não dançava ou porque a sua presença também não estava, eu não sei. aquele samba trouxe nas sandálias uma festa que eu não conhecia. depois, os dias trouxeram uma desconhecida razão de sambar. e da desconhecida paixão pelo samba, foi que eu sonhei você.

pedi um samba ontem, ao homem que desfilou aqui em frente. fosse a razão que fosse, fosse porque eu não cantava seus versos ou porque imersos estavam em mim outras palavras de canto, eu não sei. esse samba trouxe de volta nas saias rodadas o ritmo, a precisão que eu conhecia. depois, os dias continuaram a desdobrar a imensidão de alguém. e do desdobramento dessa possibilidade, foi que sonhei você.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

seus preços

eu bati na sua porta ontem a noite, você se lembra? você estava no quintal, com uma pétala na mão e uma cara de dúvida. eu já não poderia aquecer mais as suas mãos, entenda. você ainda pode me acordar depois, amanhã, noutra semana, não importa. eu já não quero mais o que você pretende levar para além do sol. eu estou tão longe como alguém que vive longe. ou estou tão perto quanto o que machuca sem ir embora. ela era bonita, eu poderia ter-lhe dito. ela era bonita, mas não tinha um ar saudável. sabe o que eu lhe disse ao invés disso? disse que entendia, mas disse também que nem sempre as coisas que compramos são exatamente as coisas pelas quais gostariamos de gastar dinheiro. dinheiro não compra briga, você entende? não compra qualidade nem gosto. já não compro mais de você as coisas suas nos preços seus que nunca entendi.