o que tinha fora que eu senti tão perto. a gente sempre imagina o que tem na janela do outro: um casal que transa, uma bicha, uma mulher que fuma. a fumaça some – tem sorte? um sinal que abre e fecha. daria para gravar duas horas de silencio aqui. um ônibus que passa com um homem velho – que o dirige. uma sala que acende ou três casas que se apagam. nenhum cão late. nenhum miado. uma menina que vomita, eu não vi. também não vi nenhum homem que a socorresse. o que tem na janela do outro que não se usa gerúndio: um homem que transa sozinho, uma mulher que fala escondido, dois bandidos – nenhum plano. um cigarro cai da mão sem vento para ser levado. o que tinha do lado de fora que eu não vi? o que tinha aqui que não tinha sido entregue? porque eu não tinha me dado por perdida, ou por sumida do mapa? um sinal que abre. eu demorei a ligar depois de uma transa na sacada. desliguei as luzes daqui mesmo, mesmo sem sono algum que me buscasse. mesmo assim, eu parti. o que tinha aqui sem ser visto?
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