sexta-feira, 12 de novembro de 2010

a cabine | 5

da janela poética:


é importante não se convencer com teorias vazias. ana Laura tem poucas manias. eu a conheci em um café, em um convite que ela fez. eu achava engraçada a sua forma de fumar, muito desconexa e própria. eu a conheci quando ela aceitou um café e pagou por ele. explico: ela vestia uma calça jeans de jardinagem, luvas saindo dos bolsos, uma blusa cor de café com leite bem fraco, óculos. ela me disse que não havia vasos grandes em seu apartamento, apenas uns quatro ou cinco pequenos no parapeito da janela da frente. disse que ali se intercalavam as cores: dois deles bem verdes, um amarelo – que depois eu chamaria de seus pequenos girassóis –, e um quarto de violetas bem minúsculas. eu não tive tempo, nessa vida, de cuidar de suas flores. eu tive tempo de percebê-las e só; claro, eu tinha me emocionado nas suas respostas rápidas e nos seus silêncios que duravam semanas. ana Laura é completamente difícil de esquecer – muitas vezes não por ela mesma, mas pelo que ela representa. ela era a coisa viva na qual eu tinha me apoiado. ela era uma mulher de tema coerente nas atitudes. o exercício para ela era sempre necessário. acontece que o exercício em excesso é o que se tem de mais próximo da doença. ela fazia inflexões sobre as folhas escritas bem no meio da sala – o que transformava o nosso relacionamento em uma simples questão me empatia. o seu exercício era olhar as pessoas, enquanto o meu era olhá-la: ela, a minha mulher sinopse.

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