eu escuto seu coração daqui, te ouço respirar. você me deu a mão e me puxou: já não estou mais aqui. conheci a vida de verdade, passei a existir. eu posso sentir você agora. eu sinto, toco, vejo. você tem cheiro, gosto, está viva, respira. suas veias dilatam quando eu me deito, teu ombro me segura, teu corpo inteiro me abraça. é incrivel. não são tuas essas palavras, nem minhas. é nossa essa história. eu amo a nossa vida. o meu amor existe, e é você - meu amor tomou forma de mulher. meu amor eu vejo completo e para além do olho. porque se vejo os lábios, já te sinto o beijo. se vejo o corpo, já te sinto o sexo. se estou aqui, existo ai. se existo, já não penso. esse amor não me fez perder os olhos, mas me abriu para a possibilidade de ver depois de estar cego. estive cego, há anos atrás. agora tenho um ambiente sem luxo e com tudo. agora eu posso ser transparente. na nossa loucura, vivo uma interessante inteligência. você era um desfile e eu passei pela tua frente, como se somente fosse possível que nos seguíssemos, um após o outro. depois de mim, há apenas você. larguei as roupas na beira da cama, larguei os pés, soltei os braços: você me trouxe somente você. a minha idéia de ser feliz é ver você dormir e te fazer perder o sono.
estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
à ana | 7
sábado, 13 de novembro de 2010
eu te amo
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
a cabine | 5
da janela poética:
é importante não se convencer com teorias vazias. ana Laura tem poucas manias. eu a conheci em um café, em um convite que ela fez. eu achava engraçada a sua forma de fumar, muito desconexa e própria. eu a conheci quando ela aceitou um café e pagou por ele. explico: ela vestia uma calça jeans de jardinagem, luvas saindo dos bolsos, uma blusa cor de café com leite bem fraco, óculos. ela me disse que não havia vasos grandes em seu apartamento, apenas uns quatro ou cinco pequenos no parapeito da janela da frente. disse que ali se intercalavam as cores: dois deles bem verdes, um amarelo – que depois eu chamaria de seus pequenos girassóis –, e um quarto de violetas bem minúsculas. eu não tive tempo, nessa vida, de cuidar de suas flores. eu tive tempo de percebê-las e só; claro, eu tinha me emocionado nas suas respostas rápidas e nos seus silêncios que duravam semanas. ana Laura é completamente difícil de esquecer – muitas vezes não por ela mesma, mas pelo que ela representa. ela era a coisa viva na qual eu tinha me apoiado. ela era uma mulher de tema coerente nas atitudes. o exercício para ela era sempre necessário. acontece que o exercício em excesso é o que se tem de mais próximo da doença. ela fazia inflexões sobre as folhas escritas bem no meio da sala – o que transformava o nosso relacionamento em uma simples questão me empatia. o seu exercício era olhar as pessoas, enquanto o meu era olhá-la: ela, a minha mulher sinopse.