sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

o tiro

tudo o que era nosso era de todos agora. eu tinha trocado a aparência pela essência em mim, e nele, o gosto do pouco pelo gosto dilacerado. eu tinha feito em pedaços, mas ele - o segundo torturado pela dor - já tinha aumentado a história. ele inventou cinco dias dos únicos três que tivemos.
- NÃO DEIXA! NÃO DEIXA!
- EU NÃO VOU DEIXAR VOCÊ AQUI.
- NÃO DEIXA, NÃO DEIXA.
ele insistiu na presença, mas naquele ponto eu já não sabia entender mais o que realmente acontecia. eu achava que ele já tinha ido porque eu não via mais o vulto. ele gritava:
- ESSE TIPO DE GENTE PRECISA APRENDER!
- não deixa. não deixa!
eu fazia um balanço com o corpo, um ritual de contra-partida. eu tampava os olhos com uma mão, e os ouvidos com a outra. pernas de índio. ele não me deixaria viver - ainda bem.

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