maria paula,
acho que desenvolvi uma necessidade psicológica de acumular. faz dias que não tenho coragem de me aproximar das beiradas da cama, pois me invade uma mansidão cujo tamanho eu jamais havia experimentado. metade consequência do porre, metade casulo de minha própria mente. nada me atinge ou me desonra. percebo os outros como projéteis desgovernados vindo em minha direção, minha amiga, e tal qual uns vultos desalmados, atravessam por mim sem ferir nada. meu aspecto é frio, vítreo. ao mesmo tempo, sinto toda e qualquer afirmação sobre mim infiltrar-se em minha cabeça como uma britadeira no concreto da rua. eu me parto. sou um pequeno pedaço solto, uma quantidade diminuta qualquer.
são verdadeiros os boatos de que este clima insalubre se tornou referência para meu pensamento. tudo adoece nesta óptica e por este prisma. exerço a minha visão sobre as eventualidades recentes como se o silêncio fosse um artigo de privilégio... reflito, refrato e separo em tantas ordens e por tantas vezes que já não ousaria contabilizar. acho que tudo o que é preciso é respeitar o tempo. o melhor silêncio é o silêncio autoral.
eu renuncio à dignidade soberana do domínio de mim mesma. perdi rédeas da moderação, como uma corda solta, puxada pelo peso prédio abaixo. não sei como reagir diante desta nova postura tão vaga, inconsistente, anônima. agora, sabrina é uma memória de distância; e embora sua forma em meu imaginário permaneça intacta, só posso me apoderar dela bem pouco. tentei fazer desta ruptura uma concessão para que ambas realizássemos nova parte da vida daqui em diante. mas acredite, sem rodeios, que esta metade a que me resta viver não será de ocupação ligeira ou agradável. eu sinto não ter sido a ideal companhia nestas semanas que passou aqui em sua última estadia. mas confesso que esta inércia em mim mesma é como uma mão gigante espremendo minhas vias respiratórias. meu tempo atual é de aflição. nada mais.
meu trabalho no escritório não se estenderá por mais de três semanas. logo, a ideia de visitá-la me parece ainda mais cativante e próxima. foram realmente inspiradores os dias que passei aí durante aquele outono, jamais me esquecerei disso.
espero ouvir noticias suas em breve.
com saudades,
ana.
ps. chico e lola, os pássaros que compramos na viagem ao brasil, permanecem com a saúde em observação. não há certeza quanto ao sentimento que sabrina e eu partilhamos neste momento, nem em que nível. mas é certo que vida segue costurando laços no sentido sensorial e interpretativo absolutamente para além de nós. estamos os quatro suspensos no ar e, sim, em um o futuro que só possui a habilidade de conseguir quando se admite presente. tão raro! quero terminar em dança, não em marcha.
acho que desenvolvi uma necessidade psicológica de acumular. faz dias que não tenho coragem de me aproximar das beiradas da cama, pois me invade uma mansidão cujo tamanho eu jamais havia experimentado. metade consequência do porre, metade casulo de minha própria mente. nada me atinge ou me desonra. percebo os outros como projéteis desgovernados vindo em minha direção, minha amiga, e tal qual uns vultos desalmados, atravessam por mim sem ferir nada. meu aspecto é frio, vítreo. ao mesmo tempo, sinto toda e qualquer afirmação sobre mim infiltrar-se em minha cabeça como uma britadeira no concreto da rua. eu me parto. sou um pequeno pedaço solto, uma quantidade diminuta qualquer.
são verdadeiros os boatos de que este clima insalubre se tornou referência para meu pensamento. tudo adoece nesta óptica e por este prisma. exerço a minha visão sobre as eventualidades recentes como se o silêncio fosse um artigo de privilégio... reflito, refrato e separo em tantas ordens e por tantas vezes que já não ousaria contabilizar. acho que tudo o que é preciso é respeitar o tempo. o melhor silêncio é o silêncio autoral.
eu renuncio à dignidade soberana do domínio de mim mesma. perdi rédeas da moderação, como uma corda solta, puxada pelo peso prédio abaixo. não sei como reagir diante desta nova postura tão vaga, inconsistente, anônima. agora, sabrina é uma memória de distância; e embora sua forma em meu imaginário permaneça intacta, só posso me apoderar dela bem pouco. tentei fazer desta ruptura uma concessão para que ambas realizássemos nova parte da vida daqui em diante. mas acredite, sem rodeios, que esta metade a que me resta viver não será de ocupação ligeira ou agradável. eu sinto não ter sido a ideal companhia nestas semanas que passou aqui em sua última estadia. mas confesso que esta inércia em mim mesma é como uma mão gigante espremendo minhas vias respiratórias. meu tempo atual é de aflição. nada mais.
meu trabalho no escritório não se estenderá por mais de três semanas. logo, a ideia de visitá-la me parece ainda mais cativante e próxima. foram realmente inspiradores os dias que passei aí durante aquele outono, jamais me esquecerei disso.
espero ouvir noticias suas em breve.
com saudades,
ana.
ps. chico e lola, os pássaros que compramos na viagem ao brasil, permanecem com a saúde em observação. não há certeza quanto ao sentimento que sabrina e eu partilhamos neste momento, nem em que nível. mas é certo que vida segue costurando laços no sentido sensorial e interpretativo absolutamente para além de nós. estamos os quatro suspensos no ar e, sim, em um o futuro que só possui a habilidade de conseguir quando se admite presente. tão raro! quero terminar em dança, não em marcha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário