sexta-feira, 16 de agosto de 2013

JUNHO

dois é par

Caso soubesse os acontecimentosque este vinte e oito de junho pudesse ter me causado, me acometido de tantaturbulência, teria olhado para as bordas da vida com simplória perspectiva eassumido uma postura mais calma. A vida me tomou em uma ciranda desconhecida dedescompassadas voltas. Se ao menos tivesse me avisado sobre o que esta dançafaria comigo, teria acordado de outra forma. Saltado da cama, como quem pula deum avião a doze mil pés de altura para cair em queda livre. São mais deduzentos quilômetros por hora, logo no primeiro riscar do sol em contato com océu da manhã. Fui arrebatada por uma avalanche de derradeiras e inúmeras coisasque me incomodavam junto a tantas outras que me traziam conforto, numtempestear de descargas ora eróticas, ora meramente eólicas. Temporal ouclimática, não importa, mas recebi você em todas as suas verdades que mepuseram para dançar de um inverno a outro. Um ano inteiro irradiando felicidadee, por que não, pulsante de dúvidas? Pelas descargas temíveis de nossa raiva –a qual o futuro está constantemente impulsionado a provar o desuso – nossaspartes menos corpóreas davam-se conta, em intervalos, que as dores não estavamsobre a pele, mas sob os tecidos robustos da imaginação. Ninguém via – ou viu –este mundo de doloridas trocas o qual fizemos de casa. A convivência secontraiu como músculo e se expandiu feito copa de árvore que avista osprimeiros dias de primavera.

Nossa, como cresci nestedesmedido tempo de nossa convivência! Mesmo dito e feito, volto repetidas vezes a sentir o esforço quefiz, de me sobrelevar e então me naturalizar ao seu lado. Entre diasindistintos e a exausta construção de muros, a defesa foi um barulho difícil desuportar – até para mim. Perdi as contas, as horas, as chances... por que não?Mas a desistência muito pouco nos pertenceu – embora a tenhamos adotado feitofardas, veemente, algumas vezes. Os limites são tão naturais como o ar quecircula nos pulmões. São partes do comportamento involuntário do organismo deque somos feitos. Na estrutura, na robustez e essencialmente na discordância,sei que nunca se tratou da controvérsia rasa, que investigava apenas assuperfícies de nós. Mas um período inteiro de mais de trezentos dias paracompreender o mínimo. E, por isso, em meio às falidas capacidades de deduzir, omarinheiro que veleja há meses avista pequena saliência no imenso tecido demar. O cume, talvez de uma geleira ou talvez a ponta de um ilhéu. Qual não é asurpresa e felicidade deste desajeitado dirigente que vê apenas tediosas águashá tanto tempo? No mar morno há agora uma direção: este rochedo no mar, umnorte próprio. Seu grito ecoa pela embarcação inteira. Naquela planície úmida,o convés é como um perímetro descampado de suricatos, levantando-se um a umeles aparecem. Tudo é convocado. E então, ele – que era um – passa a contar-separa mais de mil. As amídalas são sinos de festa entre a estridênciado primeiro grito.

[...]

Tudo vibra.

PARA A PARTE ÚNICA DE UM ACASOEXCLUSIVO DE NÓS - Junho/2013

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