terça-feira, 25 de setembro de 2012

liberdade na vida é ter amor pra se prender


o orgulho do poeta não é um orgulho banal. só o próprio poeta conhece o valor daquilo que escreve. os outros o compreenderão muito mais tarde ou talvez nunca o compreendam. o poeta tem, portanto, o dever de ser orgulhoso. se não fosse, trairia sua obra ///// milan kundera

nossa, meu amigo, agora eu te entendi.

P L A N O
concreto projeto
figurado acessível

PLANO. o plano geométrico, a medida exata, a providência ideal. plano: do trecho do filme sem interrupção. plano e liso. plano limitado fisicamente pelo olho da câmera dentro do enquadramento - mas plano infinitamente disposto a planar para além do que se vê. plano de fotogramas, plano ilusão de movimento. PLANO. o plano era esse? o plano era por o que estava parado para se mover? moveu-se, encontrou-se. noutro plano, talvez, talvez, noutro plano. o filme passa, as imagens correm. o tempo voa. o plano é simples e alguma coisa verdadeiramente se transformou no mundo.

disse - e muito bem disse - o milan kundera que só o artista sabe o valor daquilo que faz e que, de certa forma, tem mesmo o dever de ser orgulhoso. verdade. mas acho que cabe aqui a ideia da majestosa sensação que é quando aquilo que se faz também consegue fazer encher um pouco os olhos do outro. o poeta faz pra ele, é verdade, mas e se entre a sensibilidade do olho que vê e a inquietude que causa, puder fazer existir um pouco de palavra e depois um pouco de som também, por que não? imagem, talvez, apenas para aqueles que já sentiram a real exaustão de não caber mais do que foi escrito e, bom, se todas as pessoas que falam estão naturalmente se vendo e sendo vistas, olhem, tem um plano que foi feito nesse meio tempo. elaborado nos pilares que mesmo a muito contra gosto de quem constrói muros, está sobre aquilo que ninguém mais vê. sei que de alguma forma você também o fez - e quando digo você, digo, todo mundo -, nos boatos de que a vida termina ou que o colapso do tempo se aproxima. e veja como é bonito de verdade ainda estarmos aqui ansiosos como sempre por criar laços. alguma coisa sempre fica. a beleza natural das coisas que só a parte criança sua sabe gritar é uma peça, como se diz, o sonho, o riso, todo esquecimento até, todo sentimento do mundo. estamos nós e sós - e somos únicos. juntos. e sobre isso não há absolutamente nada de hipotético (no melhor dos sentidos).

as pessoas precisam ver, eu penso. elas precisam assistir a este filme justamente por esses montes de dezembros que nos caem tão pesadamente, essas insistências de finais massacrantes que inundam as pessoas de tristezas vez e outra. é, aconteceu. e aconteceu bem entre a melancolia de las von triee quase debaixo da árvore da vida do terrence malickO PLANO, tão bem feito. não sabia que às vezes uma maçã cortada nos basta. foi e é incrível.


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sinceros agradecimentos aos realizadores deste filme O PLANO. é satisfatório saber que dividimos uma geração de alguma forma. e que mesmo hoje num mundo em que as pessoas planejam tão pouco suas vidas, independente do que aconteça à mercê dos acasos mais simples ou das catástrofes naturais mais derradeiras, nunca se deixou de imaginar o lugar secreto da felicidade. da plenitude. o lugar onde os planos existem - afinal, eles são simples.


assista ao filme aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=xV1LuWjSZLg

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

para agosto, que já foi



(...) sem extensão de mim, nem permanência, entraria jogada [em setembro]. [então] agora, que o mês volta a se aproximar um ano depois, o que eu sabia, afinal de contas, além da certeza de que toda justificativa era uma admissão a princípio? e por que não saber que dentro dessas admissões de sumiço temporário que tive, estive também temporariamente ansiosa para ficar e estar presente? eu tentava imaginar, mesmo dentro dos meus esquecimentos recorrentes, a sensação que era a de caber na vida, sem aperto ou a de aproveitar um conforto sem sentir falta de nada. sabia que estava presente agora porque estava ausente de outros, nesse mês e nas presenças repetidas que me descobriram um pouco da solidão em agosto. o cérebro tinha ainda um mistério infinito, mas distraindo um pouco deste pensamento, a única coisa que eu conseguia pensar era: havia um passarinho fazendo ninho em algum lugar dentro mim?

terça-feira, 18 de setembro de 2012

o balão


não cai, balão.



balão que sobe no AR,
s o m e  
no ar,
e ri do mar, ri do chão.
ri até do mundo.

balão que voa no céu dá adeus a terra,
balão que voa rasante dá vontade pro chão
balão a desfilar à vontade no ar.

balão não nasceu pra guardar lugar,
PRA MORRER QUIETO
nem mesmo quando perto do tombo,
INVENTA FOGO E sobe outra vez.
dá adeus a quem foi tímido,
a quem foi filho,
puxa as cordas e avança, segue pra CIMA.

balão o mundo miniatura,
como brinquedo de criança levada.
tudo pequeno.
mas todo o essencial
CONTINUA
nos olhos corados
de quem, dentro do balão vê os   i n f i n i t o s   olhos
da mulher querida. 
e amada.

VAMOSPULARDEPÉSJUNTOS?
que medo alegre, o de te esperar (*)
ou de te aguardar responder.
que medo ALEGRE,
que MEDO alegre o de voar,
de estar,
e sorrir,
e desejar
com
você.

ande, venha, suba.
eu NÃO  vou 
descuidar,
eu voo.


afinal,
você também tem o sonho de voar
ALI.

(*) C.L.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

cartas marítimas | 7

fildsville, 27 de outubro de 2022.
querida maria paula,

perdoe-me a urgência repentina desta carta. sei que se esticou um período de silêncio entre nós nestes últimos quatro meses. nesse tempo, conheci, inventei, reverti muito tudo que acreditava em sentidos menores e fragmentados. desejei que você, em toda a sua verdade literária, me mandasse um sopro de ar. senti muito a sua falta, e queria que você soubesse disso, minha amiga. esta casa se transformou em um quarto de hotel - cujas vigas de madeira reclamavam tanto pelo frio, que constantemente me sentia incapaz de relaxar e de dormir. e se as casas são as pessoas que moram nela - há quanto tempo sabrina não habitava mais este lugar, a ponto de eu ter vontade de colocá-la à venda diariamente? é isso. os dias foram pequenos para todas as minhas obrigações diárias. eu estive tentando me livrar com violência de todas as coisas imóveis que restaram aqui, ao mesmo tempo que fazia paradas que me suspendiam no ar. apatia desmedida por coisas complexas demais, desistência pelos contratos e chutes - muitos chutes no ar - que não moveram, como se diz, sequer uma palha do lugar. não escondi a tosse, não escondi o amor, mesmo dentro destas oscilações todas. e ganhei o que com isso? bom, descobri que talvez quem vai ao mar, distancia-se da terra. pensei, pois, que naquela hora em que caísse no mar, viraria lenda - e pirata que seria, poderia viver de propriedades mágicas de mim mesma, recolhidas de todo canto que passasse. plano perfeito se não fosse tão mal feita minha jornada. 

então, antes da primeira parada, encontrei algo que voltou a me encher as pupilas de alegria e vontade. e imediatamente pensei se seria capaz de suportar os olhos cheios de luz outra vez. você seria? eu seria? acho que a gente põe os problemas antes mesmo deles acontecerem, você não acha? papagaio de ombro, joguei pra longe. tampão de olho. de repente, eu queria ver tudo de novo. fiz viagem curta até o mar, mas as águas, querida, sei que nunca foram rasas. como poderia, também? ocasionalmente sabrina volta a por os olhos sobre mim - e quando dou sorte, a tempo, ela o faz antes que possa soltar as velas para bem longe. noutras vezes, com um pouco de agonia, ela me presenteia com seus sumiços. a vida tem dessas coisas.  

e a minha carta deve-se apenas a isso, a minha necessidade de partilhar com você a sensação de limite que tive. eu quase me perdi, mas vi que, às vezes, as chuvas cancelam viagens, você entende? e então, o que era um atraso, uma falta de estar simplesmente, um desgosto momentâneo, um enjoo de sabor, é o que passa a existir de novo. e você vai dedicar-se. eu me dediquei, outra vez. eu estou aqui, e só saberia ser feliz assim. e você, onde está? há quanta felicidade por aí?

um beijo apertado
com saudades de sempre. 
ana