o orgulho do poeta não é um orgulho banal. só o próprio poeta conhece o valor daquilo que escreve. os outros o compreenderão muito mais tarde ou talvez nunca o compreendam. o poeta tem, portanto, o dever de ser orgulhoso. se não fosse, trairia sua obra ///// milan kundera
nossa, meu amigo, agora eu te entendi. |
P L A N O
concreto projeto
figurado acessível
figurado acessível
PLANO. o plano geométrico, a medida exata, a providência ideal. plano: do trecho do filme sem interrupção. plano e liso. plano limitado fisicamente pelo olho da câmera dentro do enquadramento - mas plano infinitamente disposto a planar para além do que se vê. plano de fotogramas, plano ilusão de movimento. PLANO. o plano era esse? o plano era por o que estava parado para se mover? moveu-se, encontrou-se. noutro plano, talvez, talvez, noutro plano. o filme passa, as imagens correm. o tempo voa. o plano é simples e alguma coisa verdadeiramente se transformou no mundo.
disse - e muito bem disse - o milan kundera que só o artista sabe o valor daquilo que faz e que, de certa forma, tem mesmo o dever de ser orgulhoso. verdade. mas acho que cabe aqui a ideia da majestosa sensação que é quando aquilo que se faz também consegue fazer encher um pouco os olhos do outro. o poeta faz pra ele, é verdade, mas e se entre a sensibilidade do olho que vê e a inquietude que causa, puder fazer existir um pouco de palavra e depois um pouco de som também, por que não? imagem, talvez, apenas para aqueles que já sentiram a real exaustão de não caber mais do que foi escrito e, bom, se todas as pessoas que falam estão naturalmente se vendo e sendo vistas, olhem, tem um plano que foi feito nesse meio tempo. elaborado nos pilares que mesmo a muito contra gosto de quem constrói muros, está sobre aquilo que ninguém mais vê. sei que de alguma forma você também o fez - e quando digo você, digo, todo mundo -, nos boatos de que a vida termina ou que o colapso do tempo se aproxima. e veja como é bonito de verdade ainda estarmos aqui ansiosos como sempre por criar laços. alguma coisa sempre fica. a beleza natural das coisas que só a parte criança sua sabe gritar é uma peça, como se diz, o sonho, o riso, todo esquecimento até, todo sentimento do mundo. estamos nós e sós - e somos únicos. juntos. e sobre isso não há absolutamente nada de hipotético (no melhor dos sentidos).
as pessoas precisam ver, eu penso. elas precisam assistir a este filme justamente por esses montes de dezembros que nos caem tão pesadamente, essas insistências de finais massacrantes que inundam as pessoas de tristezas vez e outra. é, aconteceu. e aconteceu bem entre a melancolia de las von trier e quase debaixo da árvore da vida do terrence malick, O PLANO, tão bem feito. não sabia que às vezes uma maçã cortada nos basta. foi e é incrível.
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sinceros agradecimentos aos realizadores deste filme O PLANO. é satisfatório saber que dividimos uma geração de alguma forma. e que mesmo hoje num mundo em que as pessoas planejam tão pouco suas vidas, independente do que aconteça à mercê dos acasos mais simples ou das catástrofes naturais mais derradeiras, nunca se deixou de imaginar o lugar secreto da felicidade. da plenitude. o lugar onde os planos existem - afinal, eles são simples.
assista ao filme aqui: