estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
é o bom tempo que convida a um passeio | 2
terça-feira, 27 de setembro de 2011
ana sobre o bom tempo
ana acorda. coloca o braço na poltrona, fecha os olhos e volta a pensar. de repente aquilo já tinha se tornado uma história - não dela, literatura, mas da realidade da outra. pois que para ela a mulher voltava a janela todos os dias, para ver o que pareciam ser fitas métricas, botões ou tosouras que alice, olivia ou clarice usava. sabia vê-la durante o dia, mas saberia ela imaginá-la quando escurecesse? o final da tarde não conta, não é escuro o suficiente. nada por volta das 18hs deve contar. então conta com o que vê, com aquilo que sabe contar e lhe cabe nos dedos. ainda seria preciso atrever-se, mas essa mulher era nova demais para ela. ainda vai mantê-la suspensa no ar, noutra janela, por mais três ou quatro páginas. este cenário de troca era diferente e tinha puxado ana de outra maneira. sentia uma vontade de voltar a escrever o tempo todo, e ao mesmo tempo que precisava fazer dela prosa, precisava vê-la atentamente.
ainda com os olhos fechados, sabe que o sexo durante a semana é infinitamente mais excitante pela falta de expectativa. a transa de quarta-feira, da segunda de manhã, da terça a tarde, do lanche que durou dez minutos. a intenção sexual do final de semana é sempre parecida demais, então pouco teria a falar sobre isso. o jantar, o filme, os corpos, o sexo. a quanto tempo está vestida? a quanto tempo não recolhe a toalha do cansaço e joga a toalha do banho? há tanto tempo, pensa ana.
é como o bom tempo que convida a um passeio
sábado, 24 de setembro de 2011
de quem que foi?
que se curva sobre o samba
como quem lê um poema
ri, mulher doida,
que esteve sobre perna bamba
amena e indócil
terrivelmente enorme
vi, mulher noite
que fiz um festim
mesmo em cetim pouco,
e riu muito
comigo
pra cima
de mim.
e vê, mulher moça
que não sei deixar de fazer prosa nem que tente.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
à ana | 13
ha alguma forma DE LHE falar que o amor que sinto por você vai além de coisa QUE SINTO, DE ESFORÇO QUE FAÇO, DE CAMA QUE DEITO. MESMO quando em TANTA CONVERSA MINHA E SUA NAO tivesse havido DITO NENHUM. HOUVE APENAS SEXO, QUE FOSSE. ERA TUDO QUE TINHA. MEU CORPO E SEXO oferecidos a você, A MULHER MAIS LINDA DO UNIVERSO MEU. VOCÊ. QUANDO TUDO HAVIA BRILHADO diante de ti, eu não vi o fim, mas eu vi o único recomeço sob minha chuva de folhas amareladas do outono que era você. uma mulher não houve antes de ti, entenda. houve apenas desenganos, passatempos inúteis antes de ti. o fim, se aproxima. o fim da vida. eu e você com cento e oitenta e dois anos. viveremos assim? sonharemos ainda assim, como meninas de uma vida infame, quase enferma, mas já sem doenças do corpo, sem crateras na alma, cheias ainda de coisas que te puxam e sonhos que te trazem, os mesmos cujos anjos trouxeram você um dia. não sei o endereço desta casa, nem mesmo memorizei a rua que você mora, mas saberia chegar ate você. não por caminhos, mas pelo teu cheiro, que cegamente me guia, ate você, ate a cama em que fizemos nós, em que recitamos nosso futuro, em que fizemos filhos. pois que foi na cama em que me trouxe rosas que eu me apaixonei... é, foi nessa cama que te esperei, não com os braços abertos, mas com a vida completamente entregue. tua casa é completamente linda, teus braços, sua blusa com botões pela metade abertos. abertos por mim, ou pela vida que veio antes, que fosse. serei eu a fechá-los todas as vezes. o passado tinha ficado em outro tempo, cujos esquecimentos eu só poderia perder a memória para lembrar. subi, gritei teu nome, te encontrei. e agora? a vida apronta para nós, não uma cilada, mas um cama.
POR QUANTOS ANOS ESCONDEU TEU TALENTO DE MIM, OU TEUS DESALENTOS? QUANTAS DUVIDAS TEVE ANTES DE EU CHEGAR? ANA, SOMOS UMA DA OUTRA. SOU TUA, MINHA. MINHA CUJAS PERNAS DOBRARAM, CUJOS BRAÇOS DOBRARAM, NAO NO GOZO, MAS NA MAIS ALEGRE EUFORIA QUE EU LHE PODERIA DAR. NAO ME RECUPERAREI DESTE AMOR. VIVEREI ETERNAMENTE NELE. DISPOSTA, FIRME, FRANCAMENTE. SOU TUA. ÉS MINHA.