estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
eterno presente | 2
bem diriam os cegos que o amor não está a passear despercebido. se sentido ainda fizesse isso, tanto gosta, imensamente, que seu gostar se perde em outros olhos cuja profundidade já não existe. talvez tivesse chorado por olhos rasos demais - e pela demasiada importância que deu a eles, pudera outros já o terem notado agora também. teria mesmo perdido de vista os olhos que brutalmente viu? talvez tivesse recusado o recusado olho no momento da perda. talvez tivesse ficado cega, e então enxergado que a pena que sentia não valia pena alguma. no abandono faltará tempo. e se é preciso ter coragem para fugir, imaginava ter ainda mais coragem para ficar, entregar-se. porque ela praticou a entrega, e depois, com as pernas que também eram minhas, pos-se a correr. e o que sobrou foi uma mulher tonta - como se a estupidez lhe tivesse caído sobre os ombros, e uma voz fina e pontiaguda lhe tivesse atribuído um pouco menos de graça. porque as flores não chegaram, e os planos não aguentaram tanto tempo também. sonhar não a tornaria mais bonita, acontece que a gora nenhuma alegria traria de volta o tempo do romance. bem diria, sabiamente, o tolo sobre a paixão: ah, amantes, sejam cuidadosos nesses intermináveis primeiros dias!
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