quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Velha Eterna | 7

(...) A carta do louco mais parecia um livro. Ele começou:

"A minha vida nasceu agora. O meu olho se desdobra sobre essa parede mágica ao meu lado. O meu lado, esse lado inútil sobre o qual resolvi deixar descansar meus ombros, já não me interessa. Eu sei, as pessoas ainda se desinteressariam bem mais em relação a mim. Caso minha loucura fosse boa, eu não teria sido jogado para fora. Aqui dentro, nada existe. Existe aqui, eu. E eu não vi passar o verão desse ano, nem dos últimos sete que vieram antes dele. Não me ocorre, agora, qualquer outro inverno em que tenha sentido desconforto também. As flores e folhas que cairam não pousaram perto daqui. Não dormi. Não comi nada. Não declarei as melhores intenções do sexo a uma mulher boa - nem a uma mulher vadia. Não estranhei. Não amei. Mas talvez se tivesse amado tivesse sido, também, um homem mais decente. Hoje, já nem me digo homem. A sensação de ver um louco falar é semelhante a de ver um bêbado esforçar-se para marchar firme."

A carta que ele fez foram todas as coisas que eu tinha. A mulher não deixou que a atenção da carta a tirasse da situação. Talvez eu tivesse perdido a vista nesse momento. Acontece que eu, ao contrário dela, tratei logo de escolher um lado. Dessa vez, não - pensava ela. Eu sei, eu a conheci. (...)

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