estou a iniciar um texto. eu me concentro: e eu sei, eu vou perder um tempo. é como se fosse ter um filho ou fosse decolar, pular de um prédio. passo a ser uma extensão de mim. tropeço, como um bêbado. trago a embriaguez comigo. sou apenas um pacote de receios. sou eu, resguardo.
terça-feira, 30 de junho de 2009
o casamento
para este dia, talvez, eu já tivesse formulado um texto expressivo. porque uma mulher não casa, simplesmente - descasa da vida. eu não poderia supor um homem capz de tolerar essa vida. se o melhor argumento para a liberdade incessante do meu corpo fosse a fuga, eu imaginava já ter fugido antes. e imaginava já ter corrido em outras direções, de outros braços ou pernas cuja paciência tinha trazido para mim. acontece que a minha juventude ainda deixava a desejar. eu desacreditava em tudo que o tempo tinha feito ao meu rosto - todas aquelas linhas desformes e rabiscos do meu rosto. eu não tinha vivência nenhuma, eu sobrevivia dos outros e pela vontade deles. se a minha vontade tivesse valor de escolha, eu não seria livre - então a desconsiderava também. eu queria ter descido do ônibus antes, ou ter parado de atravessar a rua antes. talvez devesse ter destrinchado o cabelo antes também, ou tomado banho mais cedo naquele dia. talvez ter deitado mais tarde então e, no cansaso, ter levantado mais tarde também. tomado banho mais tarde, ter demorado mais para lavar o cabelo, para vestir a roupa, para procurar o sapato ideal. talvez se eu tivesse deixado a pressa ou se finalmente estivesse entregue a ela. eu não morri, entenda. eu nasci outra vez. acontece que eu queria ter nascido uma mulher mais exuberante, e menos vegetativa.
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eu não morri, entenda. eu tbm não...
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