o encontro, de marcos jorge |
a malha dá voltas e
nós conforme seus próprios fios de seda. às vezes, tecido ponteado;
noutras vezes, rede rudimentar. a quanta discussão qualificada se dedica o casal? em meio a muita transição de caminho e de cruzamento,
existe toda uma sorte de crimes contra a fidelidade do amor. entre a não-obrigtoriedade e a plena vontade de ir e vir
existe um vão. será que as pessoas ingênuas acreditam mais em deus por isso? o meu seguidor depende o meu poder de
convencimento, de ludibriá-lo ou encantá-lo (também é isso) para
pertencer até mesmo nos tempos mais impróprios: daí a idea atroz do encontro. de que essa pessoa me defende, me cumpre, me salva. ao invés de achar que
encontrar é, de alguma forma, uma desistência do próprio a fim de torná-lo um pouco do outro. ser extraordinário
no desconhecido é tarefa fácil. ao encantador logo me encanto. é que para quem não me conhece tudo é imprevisível e
excitante. até um sonho. sensação de repartir que dá. grande sabor de
repartida. entregar-se, na verdade, é sair do armário da
descrença.
< despe ou despede-se >
O encontro é mais funcional quando nos despimos de nós sem expectativas de defesa, de cais de porto e de luz. Ocorre que muitas vezes o encontro é uma transferência burocrática de poderes onde o resto do tempo lutaremos para não perecermos na ilusão de que as rédeas são nossas. Imagino que seja por isso que tantos relacionamentos morrem no "isto requer".
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