segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Critica da imaginação comum

O processo afeta o homem na criação e na exteriorização. Os homens são objetos das coisas que lhe são exteriores? Se a consciência de si mesmo se perde, perde-se a identidade e passa-se a pertencer à identidade do outro. A identificação é um processo também que, por sua vez, gera pertencimento. Na cultura de massa, o pertencimento acontece quando a vontade é esmagada pela vontade do todo. Então, se existe desejo de pertencimento, hoje, a cultura de massa traz uma irônica contradição; já que a massa forma-se justamente na ausência de desejo – e na produção de mercadorias que personificam esse desejo fazendo com que isso se torne uma maneira natural de existência. É imprescindível, portanto, a socialização do instinto embora se observe a aparente incapacidade diante da opção. Há estado ou instituição que educam para que o domínio seja eficaz em determinado sentido: e o resultado desta análise pode ser deficiente. Acontece que quando não se diz, a fala fica velada – e sempre vai haver um grupo ao qual isso interessa. Se a inteligência é a simples capacidade de compreensão das opções, há sentidos recalcados, permeados pela figura do aparente líder também, do aparente ídolo que resta. O conhecimento da totalidade do homem frente à incapacidade totalizante da música traz a verdadeira integridade – já que aquele que conhece mais tende a decidir melhor também. Os meios de comunicação deveriam, portanto, fazer existir um contato com o mundo imediato, junto à capacidade de amplitude da consciência do homem e do processo do contexto mental – e não o contrário.
Faz parte da história do mundo manter dentro do espectro as coisas pelas quais se tem interesse – e tudo que constrói com o homem uma unidade. O homem é fruto de sua cultura, ainda que desenraizado, “acimentado”. Mesmo no íntimo do indivíduo, a sociedade será constantemente apresentada ao homem e o homem deverá, com ela, confundir-se. Então, se há ensino da desobediência passiva, perde-se o homem em troca da massa de homens – e o processo de estímulo ao carnaval torna-se um processo quase diabólico e catastrófico, nesse sentido. Não são mais homens estes; mas, infelizmente, contam-se por milhões.
Já dentro da limitação da cultura e da civilidade do mundo, perde-se, enfim, o mundo da troca: é áspero o caminho da liberdade. Agora, talvez seja enfim o tempo de iniciar o processo inverso.

PENSO, LOGO EXISTO (RENÉ DESCARTES)

Pensar é restrito, mas já engloba um gigantesco passo na libertação – apesar de insuficiente. Então a intenção de querer completa o ato de pensar: é o homem enquanto age. E a ação pode desencadear um ato abstrato, uma abstrata fuga: a crítica. Nesses tempos de cólera coletiva a crítica talvez seja uma arma eficaz que – não só faz defender a individualidade –, mas também propõe transformação na coisa criticada. Assim, a consciência crítica depende do conhecimento de mundo que se tem. É o conhecimento que possibilita a crença, a aceitação da verdade. Se não há conhecimento, portanto, nada pode ser absoluto, ou idolatrado. As coisas tem de ser verdadeiras no seu próprio juízo – e não no juízo de outrem: daí a eliminação definitiva do culto da personalidade.

junho/2010

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