segunda-feira, 30 de junho de 2008

ambulante

assim, terminei de passar o café naquela meia velha e o despejei por completo na xícara. o céu parecia uma malha cinza. adicionei meia dúzia de cubos de açúcar e mexi. remexi. estava inquieta por algum circustância futura que se estabeleceria em breve. não possuo exatamente lapsos de adivinhação em relação a instante futuro, mas dessa vez, em particular, o sábado se mostrava estranho. era um dia digno de desconfiança. não me trouxeram o jornal, nem o leite. talvez tivesse dormido mais que o usual. contorci o corpo e me senti estralar por inteiro. nenhum presente na porta, nenhuma cesta de frutas, nenhuma fruta mordida e depois deixada em cima da pia. nem ela, nem nada. apenas seu número de telefone esquecido como um lenço sobre o criado mudo. o telefone mudo. é, definiticamente não mudo mais. precisava começar uma nova história, mas acredite: aquela história era tudo que eu tinha. aquela história velha era a unica história que tinha. então nada que se repetisse mais que duas vezes seguidas mudaria a espera pela decisão dela. aquela era uma manhã estranha: há anos não me lembrava de ter acordado em uma manhã de inverno. e de janelas embassadas, cansadas, exaustas como eu. na cama, um reboliço: o formato deixado por seu corpo ainda se confundia com os travesseiros. seus brincos, seu saca-rolhas e seu isqueiro ainda estavam ali, intactos. o cinzeiro com lembranças e a cabeça com os restos de cigarro. tudo que era meu fedia a cigarro. eu era um vício ambulante.

Um comentário:

  1. e eu me misturo numa bagunça de orgulho e adimiração!
    putaquepariu menina... adoro tuas palavras!
    saudades

    beijos

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