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MARIA
O
cenário é simples: uma sala de espera. Sentada, uma senhora alemã segura a
câmera fotográfica de última geração. Resmunga palavras sem vogais com o
companheiro. À esquerda, em pé, um casal de turistas, provavelmente brasileiros
em lua-de-mel. Atrás da pilastra, um mochileiro barbudo e sozinho. No centro do
salão, os estudantes uruguaios em excursão. Uma família italiana, uma
adolescente entediada, um menino com Síndrome de Down. Ainda faltam quinze minutos para o início da visita
guiada. Ela, uma mãe solteira, também
aguarda. O local: Teatro Solís, Montevideo.
Existe
uma semelhança entre todas as pessoas que estão em estado de espera. Um andar
inquieto, um contínuo gesto de arrumar o cabelo intacto, conferir as horas.
Viver é planejar o futuro. Então, ali permanecem procurando, discretamente, o
melhor espaço para se posicionar perto da porta, conseguir o melhor lugar para
acompanhar o guia, sem mostrar, categoricamente, estar levando vantagem sobre
alguém. Os homens aguardam atentos pelas instruções, como soldados. As
mulheres, em deslumbre fictício ou real, não importa, em sua maioria arrumadas,
como pavões, exibem-se sobre altos e finos saltos feito agulhas riscando o chão
de mármore. Todos, sem exceção, seguram o folheto explicativo sobre o Teatro.
Maria,
a mãe solteira a quem me refiro, tem as mãos apoiadas sobre o ombro da filha. Jeito
de mulher-mãe. A menina, parada, mas agitada pela incerteza do que está por
vir, denota apreensão quanto ao passeio. Há três dias, deixaram a Espanha fugidas
de um marido e pai alcoólatra. Cada momento é um destino.
*Referencia ao poema "Os ombros suportam o mundo" de Carlos Drummond de Andrade.
*Referencia ao poema "Os ombros suportam o mundo" de Carlos Drummond de Andrade.